Há potencial para geração de energia eólica em centros urbanos. É o que aponta estudo do engenheiro Leonardo Alberto Hussni, em parceria com dois professores da USP. A convite da EA, ele revelou as principais descobertas desse trabalho
O Brasil é conhecido pelo enorme potencial de fontes de energia limpa, como a eólica. Porém, a geração de eletricidade pelo vento concentra-se hoje em parques distantes dos centros urbanos especialmente no Nordeste e, mais recentemente, também em alto-mar.
Uma tese de mestrado desenvolvida no Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP) abriu a perspectiva de exploração de energia eólica também em centros urbanos. Nesse caso, diferentemente dos parques eólicos e dos empreendimentos offshore, a geração se daria a partir da instalação de turbinas de pequenas dimensões no topo de prédios.
O estudo foi tema da tese de mestrado do engenheiro eletricista Leonardo Alberto Hussni e Silva, sob a orientação do professor Demétrio Cornilios Zachariadis do IEE/USP, com a parceria do professor Amauri Pereira Oliveira e da pesquisadora Georgia Codato, ambos do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.
HISTÓRICO DE DADOS
O professor Amauri integra o laboratório de micrometeorologia, que tem várias estações, onde são avaliados microclima urbano, ilhas de calor, aerossóis na atmosfera etc. Uma dessas estações localizada na Sé, centro de São Paulo, em cima do prédio da Secretária da Fazenda, que tem quase 100 metros de altura serviu de base para o estudo desenvolvido por Leonardo.
"Já eram feitas medições desde 2013, com equipamentos de alta precisão. Havia dados sobre velocidade, intensidade e direção do vento, temperatura, constância etc. Aproveitamos todas essas estatísticas para avaliar o potencial eólico urbano para geração distribuída. Um estudo como o nosso exige pelo menos um ano de coleta de dados, e nós já partimos de uma base de quatro anos (de 2014 a 2018)."
Leonardo conta que, a partir dessa campanha de medição, dedicou-se ao tratamento e compilação dos dados. "Analisei todas as estatísticas e probabilidades, curvas do vento, velocidade diária, direção... Assim consegui cruzar os dados com a curva de potência dos aerogeradores."
TURBINAS MENORES
Foram utilizados no estudo dados de quatro turbinas importadas: três delas já constavam do banco de dados usado. A quarta teve os dados da curva de potência inclusos por Leonardo, após obtê-los com o fabricante. "Fiz avaliação do potencial eólico dessas turbinas de pequenas dimensões durante a campanha de medição."
Leonardo destaca que, comparada à solar, a energia eólica tem menor previsibilidade em ambientes urbanos e, por isso, exige estudos minuciosos. "O vento muda a cada 10 metros. Não é à toa que só dispomos de mapa eólico global, e não de mapa de áreas urbanas. Hoje não sabemos qual o potencial eólico nas cidades."
No meio urbano, a turbulência do vento é um dificultador para a análise. "É necessário fazer a prova do sensor sônico, que mede nas três direções, para analisar a turbulência." Ele fez essa medição em fevereiro de 2014, como um estudo complementar à sua dissertação de mestrado.
VIABILIDADE PRÁTICA
Um obstáculo para a pesquisa render dividendos na prática é o preço dos quatro aerogeradores analisados, todos importados e de alto custo. Porém, Leonardo diz que outros modelos de pequenas dimensões, muito mais baratos, têm chegado ao mercado.
Ele pretende ampliar o estudo para que possa ter aplicação no mercado. O próximo passo será expandir a microrregião com a instalação de outras bases próximas, seguindo a metodologia MCP (medir/correlacionar/prever).
"Vamos fazer medições por três meses em outros lugares do entorno e extrapolar os dados para o período de um ano. Dessa forma, podemos verificar se a velocidade naquela microrregião se equipara."
MAPA URBANO
Leonardo pretende fomentar um mapa eólico urbano e dar subsídios para fabricantes nacionais, fornecedores internacionais, pesquisadores, instaladores, integradores e clientes finais.
Ele cita que é comum hoje em algumas capitais do mundo, como Dubai, projetos de engenharia que já preveem a instalação de aerogerador integrado na arquitetura e topo de prédios. Um facilitador é que a turbina ocupa menos espaço do que uma placa para geração de energia solar fotovoltaica. Mas, muitas vezes, ambas as estruturas são instaladas, para que as duas fontes sejam exploradas de forma complementar.
No Brasil, iniciativas do gênero ainda não estão difundidas. "Sem pesquisa não se tem como fazer funcionar nada. Já ouvi muito: aqui o vento é ruim. Não existe vento ruim, mas sim mal aproveitado. Se você tiver a tecnologia certa, no lugar certo, consegue gerar energia", acredita.