Retrato da energia solar no Brasil

 
Retrato da energia solar no Brasil Retrato da energia solar no Brasil

O coordenador técnico do livro "O sol vai voltar amanhã", Luis Fernando Mendonça Frutuoso, deu entrevista à EA sobre essa publicação, que reúne estudos de 20 pesquisadores


O cenário da energia solar no Brasil é explorado sob diferentes recortes e pontos de vista no livro "O sol vai voltar amanhã: um espectro de análises sobre a energia solar fotovoltaica", lançado pela Editora Lexikon e à venda nas livrarias do país.


A publicação é resultado de um projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) iniciado em 2019 pelo Instituto de Energia da PUC-Rio (IEPUC), com patrocínio da Petrogal Brasil. Em 13 capítulos, traz artigos de 20 pesquisadores sobre temas relacionados à energia solar fotovoltaica, como tecnologias existentes, geração centralizada e distribuída, questões regulatórias, ambientais, econômicas e sociais.


O pesquisador e coordenador técnico do livro, Luis Fernando Mendonça Frutuoso, conversou com a EA sobre esse trabalho:


EA: Como surgiu o trabalho? Artigos foram escritos sob encomenda para o livro ou já eram produções dos meios acadêmico e científico que foram selecionadas para fazer parte da publicação?

L.F.M.F.: A ideia do trabalho decorreu da necessidade de uma pesquisa acadêmica com o objetivo de alcançar uma atualização sistêmica sobre o desenvolvimento e a implantação de pesquisas, projetos e empreendimentos de energia solar no Brasil, que reunisse uma visão mais abrangente e holística das partes interessadas. Uma avaliação que abrangesse tecnologia, fatores econômicos, sociais, políticos e ambientais e que, adicionalmente, pudesse identificar novos negócios para energia solar em face da realidade dos movimentos de transição energética em andamento no mundo. O patrocínio da pesquisa foi da empresa Galp (através da Petrogal Brasil), com recursos da cláusula de P&D&I da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).


EA: O projeto do livro surgiu com algum(ns) propósito(s) específico(s)?

L.F.M.F.: No detalhamento do projeto, constatamos que o conhecimento do status do tema não poderia ficar restrito à própria instituição de ciência e tecnologia e ao investidor, mas deveria chegar a todos que se interessam por energia, através da publicação de um livro que reunisse as informações e os achados, de tal forma que ações a partir daí pudessem ser tomadas. O tipo de informação que gera conhecimento é aquela que permite a alguém tomar ações que agreguem valor.


EA: Os pesquisadores foram pautados antes ou tiveram liberdade para a escolha dos temas dos seus artigos?

L.F.M.F.: Os pesquisadores receberam as orientações básicas sobre as linhas de pesquisa desejadas dentro do tema Energia Solar, as quais representavam desafios a serem vencidos. Assim foram desdobrados subtemas como: análise do que já foi feito e do que faltava fazer sobre o tema; avaliação das fontes de solarimetria; estado da arte de painéis fotovoltaicos; armazenamento de energia; impactos ambientais; valor dos processos decisórios; aspectos de sustentabilidade de geração centralizada e distribuída; análise da regulação e espaço para melhorias, incluindo comparação com outros países; análise do encadeamento produtivo e requisitos técnicos normalizados sobre o tema.


EA: Haverá atualizações? Novas edições revistas?

L.F.M.F.: Como a primeira edição foi publicada em 18 dezembro de 2020, portanto muito recentemente, é possível que uma nova coletânea de informações seja feita nos próximos cinco anos. Esse é um período em que se espera grande revolução nas tecnologias limpas e de geração de energia, incluindo hidrogênio verde a partir de eletrólise com a energia elétrica a partir de energia solar.


EA: A aprovação do projeto de lei da Geração Distribuída vai mudar muito o cenário da energia solar no Brasil? Esse futuro cenário foi projetado no momento de produção do livro?

L.F.M.F.: O uso da energia solar no Brasil foi acelerado bastante nos últimos anos, com destaque para a geração distribuída. Em 2017, a capacidade instalada da geração distribuída era de 192 MW, passando para 7.300 MW até outubro de 2021, segundo dados da ABSOLAR. Nos últimos dois anos, a geração distribuída foi mais de 60% do total de capacidade, considerando o total de capacidade de geração solar do Brasil, que foi de 11.596 MW no mesmo período.


Quando iniciamos o projeto de pesquisa, esse momento de crescimento da energia solar distribuída foi identificado e o livro passa por essa análise, não somente em relação às tecnologias que estavam aparecendo e que hoje já estão disponíveis em termos de painéis de silício, mas também na questão regulatória que estava e ainda está em mudança. O cenário projetado, na época do livro, ainda sofria algum tipo de barreira proveniente da eliminação de incentivos, o que levava a prazos de recuperação de capital mais longos para a solar, mas, ainda assim, bastante otimista em face da evidente segurança energética que pode ser adquirida pelo uso de fontes alternativas em conjunto, como, por exemplo, na hibridização.


Na regulação atual, há muitas vantagens oferecidas em termos de isenção de tributos, que motivo o crescimento acelerado da geração distribuída. No projeto de lei 5.829 de 2019, aprovado pela Câmara em agosto de 2021 e remetido ao Senado, mantém-se incentivos. Ainda que diferentes na sua aplicação, poderão ser aproveitados. Isso é bom para os agentes de mercado, fornecedores e consumidores, e bom para o país, pois ajuda a aumentar a segurança energética.


EA: Na sua opinião, quais as principais contribuições do livro?

L.F.M.F.: Levar informação e conhecimento para as partes interessadas em energia solar, em linguagem acessível, sobre o que foi feito, o que estava em andamento e o que estaria por vir, considerando as visões que citamos anteriormente ? solarimetria, estado da arte de painéis fotovoltaicos, armazenamento de energia, impactos ambientais, valor dos processos decisórios, aspectos de sustentabilidade de geração centralizada e distribuída, análise da regulação e espaço para melhorias (incluindo comparação com outros países), análise do encadeamento produtivo e requisitos técnicos normalizados. Este conjunto de informações consolidadas fornece um ponto de partida para uma análise estrutural e conjuntural para que alguém, ou alguma empresa, tome decisões sobre qual rota seguir.


EA: A quais públicos a publicação se destina?

O livro destina-se a uma grande variedade de interessados. Desde a pessoa comum que precisa saber mais um pouco sobre energia solar, até estudantes e pesquisadores que precisam de algum aprofundamento nas questões de solarimetria e conversão de energia solar em energia elétrica. A divisão em capítulos foi feita de tal forma que não há necessidade de ler o livro todo para entender as partes. Portanto, na nossa visão, trata-se de um material de educação e consulta essencial para quem atua na área.


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